sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Lygaeus equestris

(L. equestris) - Linnaeus, 1758

 Este insecto,  com 8 a 13 mm de comprimento,  possui um padrão característico vermelho-preto,  tem asas desenvolvidas e pernas compridas e muito resistentes. Tem duas faixas transversais e uma mancha branca redonda na membrana. Perto dos olhos, mais larga que eles, tem ainda uma banda preta.

Alimenta-se de sucos de diversos vegetais, especialmente serralha.

O acasalamento, que chega a durar um dia, ocorre na Primavera. O macho e a fêmea ligam-se por trás. A postura acontece em Junho e pode atingir 50 ovos, que são colocados no chão.

Reino:           Animalia
Filo:              Arthropoda
Classe:          Insecta
Ordem:         Hemiptera
Subordem:    Heteroptera
Infraordem:    Pentatomomorpha
Superfamília:  Lygaeoidea
Família:         Lygaeidae
Subfamília:    Lygaeinae
Género:         Lygaeus
Espécie:        L. equestris


Imagens captadas em Oeiras










quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Tecedeira-de-cruz-cosmopolita (aranha-de-cruz, aranha-diadema, aranha-dos-jardins)

(Araneus diadematus) - Clerck, 1757

A sua cor pode variar muito, entre o negro, o castanho escuro ou até castanho alaranjado. Apresenta duas saliências no dorso na sua zona mais larga. Na parte central, longitudinalmente, tem uma fila de manchas brancas que em conjunto com outras manchas transversais formam uma cruz.

A fêmea, com 12 a 17 mm, de comprimento é muito mais corpulenta que o macho que apenas mede de 5 a 10 mm.

Habita em matas, jardins e outros locais com árvores e arbustos.

A fêmea tece uma teia vertical, de captura, que pode atingir mais de 40 cm de diâmetro, com cerca de 30 raios, suspensa entre duas árvores ou arbustos por fios grandes e reforçados. Na parte central, normalmente ocupada pela fêmea, onde permanece pendurada, é reforçada. A teia que os machos constroem, que é mais pequena e fica localizada junto à parte superior da da fêmea, destina-se a fins de acasalamento. Quando o macho considera que a fêmea se encontra no local desejado, pendura-se em fios com a parte ventral virada para cima  e tenta colocar um palpo no epigíneo da fêmea, repetindo o processo durante o tempo necessário que chega a ser de uma hora. cada cópula tem a duração de cerca de 15 segundos. Em seguida procede de igual forma para o outro palpo. Quando não há receptividade da fêmea para o acasalamento podem tentar matar-se mutuamente.
No fim do verão,  os ovos amarelados são depositados em sítios abrigados e eclodem na Primavera. Após a postura a fêmea mantêm-se por perto e morre pouco tempo depois. As crias agrupam-se até ocorrer a primeira muda, dispersando-se nessa altura. Só ficam adultas no Verão ou Outono do ano seguinte.

Na sua alimentação dão preferência às moscas, abelhas e borboletas, ajudando assim a reduzir a população de pragas de insectos. Envolve as presas em seda antes de as consumir.

É normalmente pacífica, fugindo para o seu esconderijo quando é perturbada, só raramente se defende picando. O seu veneno é muito eficiente em insectos e no homem provoca dor local, que desaparece passadas algumas horas, não se conhecendo efeitos secundários.




Reino:      Animalia
Filo:         Arthropoda
Classe:    Arachnida
Ordem:    Araneae
Família:   Araneidae
Género:   Araneus
Espécie:  A. deadematus


Imagens captadas algures no Parque Natural Sintra Cascais






















segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Cymbalophora pudica

(C. pudica) - Esper, 1784

Com uma envergadura de cerca de 40 mm, distribui-se  principalmente pela Península Ibérica, Ilhas Baleares e Norte de África. Esta borboleta nocturna identifica-se facilmente pelas suas manchas triangulares negras sobre fundo branco, nas asas anteriores.

É atraída pela luz, como a maioria dos heteróceros.

Hiberna durante os meses mais frios e, como adulta, voa de Agosto a Outubro.  A fêmea põe grande quantidade de ovos amarelados que eclodem em poucos dias, dando origem a pequenas lagartas.

Alimenta-se de diversas gramíneas e, sobretudo, de dente-de-leão (taraxacum officinale).


Reino:        Animalia
Filo:           Arthropoda
Classe:      Insecta
Ordem:      Lepidoptera
Família:     Erebidae (ex-Arctiidae)
Género:     Cymbalophora
espécie:    C. pudica

Imagens captadas na Quinta da Casa Nova, Cortiçadas, Montemor-o-Novo























quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Lasiocampa quercus

(L. quercus), Linnaeus, 1758

 Com 65 mm de envergadura, pertence ao grande grupo das borboletas nocturnas (heterocera). A designação de quercus foi-lhe atribuída devido ao facto de o casulo ter a forma de bolota e não tem nada a ver com o tipo de alimentação das lagartas como se poderia pensar, visto que não se alimentam de  produtos com origem em qualquer espécie de carvalho. O seu corpo castanho está coberto de tufos de seda acastanhados. As asas anteriores e posteriores apresentam o mesmo desenho. É uma espécie com acentuado dimorfismo sexual. A fêmea possui antenas finas e as do macho são em forma de pente.

A sua dieta é constituída por folhas de uma grande diversidade de plantas como a cerejeira, a macieira , o pessegueiro as silvas ...

Enquanto que as fêmeas são nocturnas, sendo frequentemente atraídas pela iluminação pública, os machos são vistos a voar durante o dia.  Por esta razão elas apresentam-se com cor mais pálida que
eles.

Distribui-se por toda a Europa ocidental.

As aranhas as aves, os morcegos, as vespas e as moscas são predadores naturais desta espécie.

Reino:      - Animalia
Filo:         - Arthropoda
Classe:     - Insecta
Ordem:    - Lepidoptera 
Família:   - Lasiocampidae
Género:   - Lasiocampa
Espécie:  - L. quercus


Imagens captadas na Quinta da Casa Nova, Cortiçadas, Montemor-o-Novo













quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O montado, o sobreiro e a cortiça

A cortiça não é mais que a casca do sobreiro (Quercus suber), árvore que cresce nas regiões mediterrânicas como a Argélia, Espanha, França,  Itália, Marrocos e principalmente em Portugal.

A impermeabilidade à água e aos óleos, a resistência ao fogo, a sua qualidade como isolante térmico e acústico, a sua leveza, compressibilidade e elasticidade são as principais características que conferem à cortiça a capacidade de ser utilizada num cada vez  maior número de aplicações, que, ao longo dos anos, tem vindo sempre a aumentar.
É a presença da suberina e a flexibilidade das membranas celulares que lhe dão a elasticidade, a compressibilidade e a impermeabilidade. A capacidade isoladora deve-se à existência, nas suas células, de pequenos compartimentos estanques contendo gases (com composição semelhante à do ar), isolados por substâncias, não higroscópicas, de baixa densidade.

O concelho de Montemor-o-Novo é um dos maiores produtores de cortiça do país e também aquele onde este produto atinge melhor qualidade. Existem referências à utilização da cortiça como material de construção, neste concelho, que se reportam à segunda metade do século XVII. Nas Cortiçadas de Lavre, cujo nome teve origem  na existência de casas feitas de cortiça, ainda hoje há alguns vestígios deste tipo de construção, nomeadamente na zona da Gralheira Velha e na Herdade da Cascada. As paredes eram construídas com pranchas de cortiça sobrepostas, ligadas por barro e o telhado feito com colmo.

Em 1937 foi elaborada legislação que estabeleceu como sendo de 9 anos a idade mínima permitida para a extracção da cortiça. Antes o critério  era o de só ser tirada quando possuísse a devida maturação, considerando-se madura  a cortiça que apresentava uma cor amarelo rosada e quando ao, bater-se nela com o olho do machado, não se deformava. A "desboia", nome que se dá à primeira tirada,  só se efectua em árvores com 25 a 30 anos de idade designando-se de "virgem" a cortiça daqui resultante. Na tirada seguinte denomina-se  "secundeira". A partir da terceira tirada passa a considerar-se  "amadia" e o seu valor comercial é bem maior que o das anteriores.

Os trabalhos de tiragem começam ao amanhecer e decorrem durante os meses de Maio a Agosto, mas é necessário estarem reunidas determinadas condições edafo-climáticas para que se possa efectuar. Em certos anos em que as mesmas não ocorrem, a cortiça não "dá" (não se separa do tronco),  não é possível efectuar o descortiçamento e o processo tem que ser adiado para o ano seguinte. O "rancho" de tiradores coordenado por um "manajeiro" utiliza como ferramentas a escada e o machado. Se bem que também já se recorra a  máquinas na extracção, a verdade é que  o processo tradicional, utilizado há mais de 3.000 anos, é ainda o preferido nos nossos dias. O manejo do machado exige grande destreza dos tiradores que executam golpes certeiros e com a força necessária (não demasiada para não ferirem o entrecasco), primeiro no sentido longitudinal do tronco e depois no transversal "desenhando" as pranchas, de forma rectangular, com o maior comprimento possível. Quando a cortiça se parte demasiado e não é possível formar pranchas fica em "bocados" que não são pagos pelo comprador (ou o faz por um preço irrisório).  O processo de desagregação é ultimado com o cabo do machado  que, para o efeito, é afiado em cunha na extremidade. Além dos tiradores há ainda o grupo que efectua o carregamento e o que procede ao empilhamento. De ano para ano, cada vez menos se procede ao empilhamento no campo, já que os compradores, intermediários no processo de comercialização, fazem deslocar para o terreno potentes e modernos camiões, a bordo dos quais vão fazendo a pilha, que é transportada de seguida para os seus estaleiros. Segundo me informaram os camiões são dotados de um sofisticado sistema que permite colocar no chão a carga de modo a manter a pilha tal como foi transportada. Evitam-se assim os roubos que, com alguma frequência,  aconteciam na cortiça que permanecia, durante meses, empilhada no campo.

Coexistem dois métodos de tiragem: por "meças" se a extracção é efectuada por partes em anos distintos, ou a "pau batido" se é tirada  na totalidade de uma só vez. A tiragem por meças está a cair em desuso, visto que provoca mais lesões nas árvores, que potenciam o aparecimento de doenças. Aliás, já existe legislação que proíbe a tiragem por "meças" a partir de 2030.

Mais de um terço de toda produção mundial de cortiça pertence a Portugal, que explora 730.000 hectares de montado, ocupando assim a posição de líder incontestado.

Cerca de 35% da cortiça produzida é utilizada na indústria de fabricação de rolhas, que origina 80% do valor, mas existe uma infinidade de outras aplicações, na construção civil,  nas indústrias automóvel, aeronáutica e espacial, no calçado e até no vestuário. Há alguns anos houve quem tentasse, através dos meios de comunicação, destronar a cortiça como o vedante de eleição utilizado no engarrafamento dos vinhos de qualidade. Contudo agora, aos especialistas do sector vinícola, parece já não restarem dúvidas quanto à nobreza deste produto para este fim.

Por se adaptar a solos quase incapazes de outras  produções rentáveis, o valor do sobreiro não pode ser apenas avaliado pela cortiça que produz, mas também pelo papel que desempenha evitando a erosão, degradação e desertificação do solo e ainda por potenciar a existência de outras actividades como a caça e o pastoreio, dando inegável contributo para a  biodiversidade, a conservação da natureza e manutenção de ecossistemas, que é fundamental que sejam preservados para que o ser humano possa continuar a  ter alguma qualidade de vida.

Estima-se que as actividades relacionadas com a produção da cortiça (tiragem poda e intervenção no solo) sejam responsáveis pela criação sazonal de cerca de 6.000 postos de trabalho. Um tirador pode ganhar um salário que pode variar entre 75 a 150 euros.  No primeiro caso considera-se o valor diário contratado e no segundo corresponde ao valor de 4 a 5 euros pagos por arroba extraída tendo em conta que é razoável que um bom executante tire 30 a 40 arrobas em oito horas de trabalho diário.
No que respeita à indústria calcula-se que as 900 empresas do sector, existentes no País, empreguem 15.000 operários.

Existe um grande desequilíbrio de forças entre a procura e a oferta que tem que ver com o facto de existir uma grande fragmentação nas vendas em contraponto com uma grande concentração nas compras. Esta situação deixa o pequeno produtor completamente entregue à sua sorte, sem qualquer capacidade interventiva no processo de formação de preços,  vendo-se obrigado a aceitar as regras que lhe são ditadas pelos grandes grupos económicos que actuam do lado das compras.

Nos últimos 10 anos os preços no produtor baixaram de forma assustadora, enquanto que, inversamente,  os custos de produção não pararam de aumentar.

Para se fazer uma ideia, ainda que pálida, da evolução da situação dos pequenos produtores indico em baixo alguns dados  referentes às receitas geradas pela tiragem de cortiça numa courela com cerca de 10 hectares, em 2003 e em 2013. Devido a condições adversas não foi possível a extracção em 2012.

                                        Venda de cortiça em 2003

                 Peso        Peso líquido (quebra 20%)               Valor
     Kgs           Arrobas           Kgs         Arrobas
 26.510,00   1.767,33   21.208,00   1.413,87          51.129,57 € 
Notas:  - Os bocados foram pagos ao mesmo preço das pranchas;
             - O preço por arroba foi de 36,162848 €  ( 7.250$00);
             - Os custos de tiragem ficaram a cargo do comprador;
             - Cortiça com nove anos
                                        Venda de cortiça em 2013

                Peso               Peso líquido (quebra 20%)       Valor
     Kgs           Arrobas           Kgs          Arrobas
 15.100,00   1.006,67   12.080,00      805,33          17.717,26 € 
Notas:   - Os bocados ficaram para o comprador e não foram pagos; 
              - O preço por arroba foi de 22,00€ (4.410$60) ;
              - Os custos de tiragem ficaram a cargo do comprador;
              - Cortiça com 10 anos 

De uma análise muito superficial facilmente se conclui que:

- A produção baixou cerca de 43%, mas
- O valor gerado baixou mais de 65%

A Diminuição da produção tem diversas causas, que não são exclusivas do nosso País, sendo de realçar as alterações climatéricas, com anos de secas prolongadas, más práticas culturais e a presença de pragas e doenças.

Em face destes resultados, de cuja veracidade estou absolutamente seguro, parece-me pertinente e legítimo perguntar aos entendidos na matéria que receitas existem para convencer os pequenos proprietários a não abandonar o montado, contribuindo assim para o incremento da desertificação (em todos os sentidos).




Imagens captadas na Courela da Boavista, Cortiçadas, Montemor-o-Novo