domingo, 16 de setembro de 2012

Garça Real (Garça Cinzenta)

(Ardea cinerea) - Linaeus, 1758

Ave robusta e grande, com o dorso cinza e as partes inferiores brancas e acinzentadas, possui uma faixa superciliar negra. O bico e as pernas apresentam-se com coloração amarela acinzentada. É a maior das garças europeias chegando a atingir perto de 1 metro de altura, quase 2 metros de envergadura e 2 kg de peso.  O seu bico, direito e forte, é afilado e longo, o pescoço é longo e as pernas são altas. Vive cerca de 25 anos e atinge a maturidade aos 2 anos. Conhecida no Brasil como garça-real-europeia e em Angola como galangundo, é muito abundante na Europa, nomeadamente em Portugal.

Tanto  vive nas costas marítimas como em água doce pouco profunda. Aparece em todas zonas húmidas, com particular relevância nos grandes estuários e lagoas costeiras. Desloca-se lentamente em águas de pequena profundidade, imobiliza-se completamente antes de atacar  as suas presas, o que faz com um golpe magistral, de tal forma rápido, que não lhes dá qualquer hipótese de fuga.

O peixe constitui a base da sua alimentação se bem que também coma batráquios, répteis, pequenos mamíferos, insectos e moluscos.  Consegue digerir bem as espinhas dos peixes mas regurgita os pelos dos roedores sob a forma de bolas.

Nidifica em colónias, em plataformas construídas sobre árvores, próximas de água. A incubação dos ovos, em número de 3 a seis, é feita alternadamente por ambos os progenitores, durante quatro semanas. Os juvenis começam a voar às 7 semanas e ao fim de 8 a 9 tornam-se independentes dos pais.

O bater lento e pesado das asas e a retracção do pescoço durante o voo ocasiona que, por vezes seja confundida com aves de rapina. São estas características que a distinguem da cegonha.

Reino:    Animalia
Filo:       Chordata
Classe:  Aves
Ordem: Ciconiformes
Família: Ardeidae
Género: Ardea
Espécie: A. Cinerea



Imagens captadas no Parque Natural da Ria Formosa, Olhão.









segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Moinhos de Maré

Volto hoje ao tema do aproveitamento das energias renováveis. Há já muito que a minha curiosidade me impelia a  visitar  um Moinho de Maré. Por um motivo ou outro fui sempre adiando essa decisão e foi necessário passar alguns dias de descanso num local próximo de um para concretizar essa ideia.

Há indicações de que já existiam no século XII, no Sul de França e que se disseminaram por toda a Europa durante os séculos XIII e XIV. Em Portugal sabe-se que os primeiros foram construídos no nos finais do XIII, nomeadamente um em Castro Marim, no Algarve. Há conhecimento da existência de um em Alcântara, Lisboa, desde o início do Século XIV e o do Montijo terá sido construído em 1386. No início do século XV, Nuno Álvares Pereira, proprietário dos terrenos banhados pelo Tejo junto ao Seixal, mandou construir um em Corroios. Posteriormente coube aos carmelitas a tarefa de construir muitos outros nesta zona, como os da Raposa, do Capitão, do Galvão, da Passagem e o da Torre, visto que estes terrenos foram doados ao Convento do Carmo. Também na mesma altura outros foram construídos na margem esquerda do rio Coina. Durante o século XVI começaram a surgir em quase todos os estuários dos nossos rios, mas foi nos conselhos de Almada, Seixal, Barreiro, Montijo e mesmo no da Moita que mais proliferaram. Já no século XVIII, o terramoto de 1755 transformou em ruínas a maior parte deles. Apenas o de Corroios se manteve em funcionamento até à década de 70 do século passado, tendo sido adquirido pela Câmara do Seixal que o recuperou e mantém, pronto a funcionar, aberto ao público, como monumento industrial. Também no Parque Natural da Ria Formosa, nas proximidades de Olhão, aberto ao público, capaz de funcionar, existe o moinho de Marim, equipado com seis moendas (pares de mós). Em ruínas, outros existem no Algarve, mas em Estômbar há um, com casa de moleiro, que ainda produz farinha com que é feito pão.

Estes engenhos, que foram de grande importância económica para as populações, eram não só utilizados na produção de farinha para o fabrico de pão, mas também para a fabricação de farinha de peixe e para o descasque de arroz.

O seu funcionamento baseia-se nas marés que, como é sabido, são condicionadas pela força gravitacional da lua (e do Sol em menor grau dada a maior distancia a que se encontra de nós) no seu movimento de translação em volta da Terra, e mais não são que o movimento ascendente das águas do mar pelo leito dos rios, junto à foz, durante a maré alta e, inversamente, o movimento descendente das mesmas durante a maré vazia. Os moinhos eram estrategicamente construídos sobre um dique que delimita uma  enseada a que se dá o nome de caldeira. A passagem da água para a caldeira faz-se, durante a maré cheia, com o moinho parado, através de uma porta basculante (adufa) que funciona como válvula, evitando o esvaziamento quando se inverte o processo para baixa mar, devido à força contrária que então se passa a exercer.  O esvaziamento da caldeira só se inicia quando, durante a baixa-mar, os rodízios ficam a descoberto, e se abrem as portinholas das  suas condutas entrando então em funcionamento, que por sua vez  transmitem o seu movimento rotativo às mós "andadeiras" que, com o atrito que provocam sobre os "poisos",  reduzem o grão a farinha, desencadeando-se assim o processo de moagem do cereal.

 A previsibilidade da ocorrência das marés constituia uma vantagem relativamente ao aproveitamento de outros tipos de energias renováveis. O moleiro  não se podia dar ao luxo de ter um horário fixo, mas, em todo o caso, era-lhe possível planear com antecedência as suas tarefas, que não se limitavam a acompanhar o processo de moagem. Tinha também que "picar" as mós "andadeiras" afinando cada uma para o tipo (mais ou menos fino) de moagem pretendido, proceder a limpezas e reparações ...

Considerando que, como já ficou dito, os moinhos só operavam durante a maré vazia e que o fenómeno ocorre duas vezes por dia, conseguia-se que funcionassem cerca de quatro horas por dia. A quantidade de cereal processada dependia, além disso do número de moendas existentes que, por norma, variava entre quatro a dez.

        
            Imagens captadas no Parque Natural da Ria Formosa, na zona de Olhão, Algarve.