Os rapazes só adquiriam o estatuto de verdadeiros homens quando iam às sortes, ou seja quando eram submetidos à inspecção médica avaliadora da robustez, que determinava a sua incorporação ou não no Serviço Militar, que então era obrigatório.
Assim, mandava a moral vigente que fosse vedada aos jovens a possibilidade de saírem à rua a partir de determinada hora da noite. Não tenho agora presente até que horas essa permanência era "permitida" mas seguramente nunca depois da meia-noite. Isto relativamente aos rapazes, visto que quanto às raparigas a questão nem se levantava, uma vez que nenhuma se afoitava a semelhante feito, que, a verificar-se sem a companhia dos pais, seria inexoravelmente reprovado por toda a comunidade que dele tiraria as mais infames ilações! As consequências de tal atitude poderiam tornar-se imprevisíveis, sendo certo que não faltaria o falatório a seu respeito e teria enorme dificuldade em arranjar noivo!
Encoberto numa manta, com o fim de manter o anominato e munido de um grande cajado o nosso herói percorria, a altas horas da noite, as ruas da aldeia, acolitado por dois ou mais ajudantes que o seguiam à distância. Sempre que avistava algum novato de imediato o intimava, com voz disfarçada, a ir para o choço (tchôço), que o mesmo era dizer: menino toca a ir para a cama que não são horas de andar na rua. Por norma esta ordem era obedecida sem discussão, mas no caso de haver alguma resistência quase sempre a exibição do varapau era suficiente para o dissuadir. Só em situações muito excepcionais era necessário aplicar alguma arrochada (arrotchada) a quem se atrevesse a desobedecer. Por outro lado os ajudantes, embora à distância, mantinham-se atentos, não fosse o diabo tecê-las, já que, quando o jovem era de robustez comprovada, podia dar-se o caso de se virar o feitiço contra o feiticeiro!
Em boa verdade esta tradição funcionava assim como um recolher obrigatório que se impunha aos mais novos, que eram considerados como ainda incapazes de cuidar de si próprios. A intenção era protegê-los dos malefícios que poderiam advir da aquisição de hábitos noctívagos.
Esta prática era mais observada durante o Verão, nomeadamente quando se regressava de alguma descamisa, que porventura se prolongasse mais do que o previsível.
Este hábito, que hoje pode ser considerado primitivo, era na altura bem aceite pela sociedade que via nele uma forma de moralização dos costumes, visto que impedia os jovens de se desencaminharem, evitando que pudessem, por exemplo, frequentar tabernas pela noite dentro. Até porque não nos podemos esquecer que o trabalho, no dia seguinte, começava bem cedo e era importante que se mantivesse todo o vigor físico.
Correndo o risco de ser apelidado de saudosista de passados obscuros, chego a pensar se não seria útil, com as devidas adaptações aos tempos actuais, que novos homens da manta surgissem para ver se conseguiam meter na linha certos meninos que para aí andam!
Pense nisso!
Quando nos voltarmos a encontrar podemos, se quiser, escalpelizar melhor este assunto.
Até lá e passe bem.
jogilbo
Encoberto numa manta, com o fim de manter o anominato e munido de um grande cajado o nosso herói percorria, a altas horas da noite, as ruas da aldeia, acolitado por dois ou mais ajudantes que o seguiam à distância. Sempre que avistava algum novato de imediato o intimava, com voz disfarçada, a ir para o choço (tchôço), que o mesmo era dizer: menino toca a ir para a cama que não são horas de andar na rua. Por norma esta ordem era obedecida sem discussão, mas no caso de haver alguma resistência quase sempre a exibição do varapau era suficiente para o dissuadir. Só em situações muito excepcionais era necessário aplicar alguma arrochada (arrotchada) a quem se atrevesse a desobedecer. Por outro lado os ajudantes, embora à distância, mantinham-se atentos, não fosse o diabo tecê-las, já que, quando o jovem era de robustez comprovada, podia dar-se o caso de se virar o feitiço contra o feiticeiro!
Em boa verdade esta tradição funcionava assim como um recolher obrigatório que se impunha aos mais novos, que eram considerados como ainda incapazes de cuidar de si próprios. A intenção era protegê-los dos malefícios que poderiam advir da aquisição de hábitos noctívagos.
Esta prática era mais observada durante o Verão, nomeadamente quando se regressava de alguma descamisa, que porventura se prolongasse mais do que o previsível.
Este hábito, que hoje pode ser considerado primitivo, era na altura bem aceite pela sociedade que via nele uma forma de moralização dos costumes, visto que impedia os jovens de se desencaminharem, evitando que pudessem, por exemplo, frequentar tabernas pela noite dentro. Até porque não nos podemos esquecer que o trabalho, no dia seguinte, começava bem cedo e era importante que se mantivesse todo o vigor físico.
Correndo o risco de ser apelidado de saudosista de passados obscuros, chego a pensar se não seria útil, com as devidas adaptações aos tempos actuais, que novos homens da manta surgissem para ver se conseguiam meter na linha certos meninos que para aí andam!
Pense nisso!
Quando nos voltarmos a encontrar podemos, se quiser, escalpelizar melhor este assunto.
Até lá e passe bem.
jogilbo
7 comentários:
O trabalho começava bem cedo para alguns! Os ricos permaneciam em casa e os pobres trabalhavam para os ricos, ou para aqueles supostos ricos.
Senhor anónimo,
Em aldeias como a Benquerença até os "ricos" eram "pobres" de bens materiais. Alguns tinham apenas mais um pouquito. As pessoas a que me refiro todas elas era muito trabalhadoras e não viam nascer o sol na cama. Curiosamente aqueles que trabalhavam exclusivamente para si próprios quase sempre se esforçavam mais que os que trabalhavam por conta de outrem!
É de homens que não "chegaram a ser meninos" que falo.
Gostei da forma como o Jogilbo descreveu uma tradição que existiu em Benquerença, concelho de Penamacor – O Homem da Manta.
Não gostei de ver alguém tropeçar numa frase, “Até porque não nos podemos esquecer que o trabalho, no dia seguinte, começava bem cedo…”, e, caindo, magoar-se…
Felizmente, o Autor do Blogue ajudou-o a levantar.
E a correcção ortográfica onde ficou? Como se diz: "precurso" ou "percurso"( acto ou efeito de percorrer,caminho...)
Uma ligeira desatenção concerteza, para quem escreve despretensiosamente.
Senhor anónimo,
Sigo uma das regras da “netiqueta”, apenas questiono o autor se não entender o texto.
Em presença de um especialista em ortografia, abro uma excepção.
E a correcção ortográfica onde ficou? Como se diz: “concerteza” ou “com certeza”?
E o espaço entre a vírgula e “caminho”?
Uma ligeira desatenção, com certeza, para quem se permite corrigir a língua portuguesa.
Havia,segundo suponho assim de memória (não por o saber de o ter vivido, mas por o ter ouvido há muito tempo naquelas noites de invernia a ver as brasas esmorecer e a ficar de olhos), um tal de chapéu(tchapéu) que permitia algumas excepções para quem tinha de se meter ao caminho às desoras a mando ou a fazer os recados
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