terça-feira, 19 de março de 2013

Salamandra-de-costelas-salientes (Pleurodelo ou Salamandra-dos-poços)

(Pleurodeles waltl) - Michaelles, 1830

Considerada como o  maior anfíbio caudato da Península Ibéria, a Salamandra-dos-poços,   chega a atingir os 30 cm de comprimento. No tronco achatado possui até 10 protuberâncias dorsais de cada lado, por onde se projectam para o exterior os extremos das costelas. A sua distribuição é muito restrita, já que apenas se pode encontrar em Portugal, Espanha e na região Ocidental de Marrocos.

Nos membros anteriores dispõe de quatro dedos e nos posteriores de cinco.

Larvas de insectos, crustáceos e outros invertebrados aquáticos constituem a sua dieta predilecta. Em condições especiais poderá também alimentar-se de restos de vegetais, de pequenos peixes ou mesmo assumir-se como canibal. Suporta jejuns de meses em caso de necessidade.

Vive em charcos, lagos, poços ou cisternas, em habitats mediterrânicos. Pode  hibernar durante os meses mais frios, mas nas regiões de clima mais ameno mantém-se activa todo o ano.

O lagostim-de-rio-americano, a cobra-de-água e peixes como a carpa e o achigã constituem uma séria ameaça para o desaparecimento desta espécie em certas zonas. Defende-se dos seus predadores segregando substâncias através de glândulas tóxicas e pelas protuberâncias dorsais. Perante uma ameaça fica arqueada e com aspecto assustador, chega a morder e emite sons.

Na época reprodutiva, o macho coloca-se sob a fêmea e carrega-a durante horas ou até dias.  agarra-a com os membros anteriores e pressiona-a com a cabeça estimulando-a. A certa altura solta um dos braços de modo que as cloacas fiquem em contacto, dando-se a recolha, pela fêmea, do espermatóforo. Dias depois a fêmea deposita de 200 a 800 ovos , em plantas, rochas ou no fundo do charco. Duas semanas depois ocorre a eclosão, iniciando-se o período larvar que decorre durante cerca de 4 meses. O estado adulto é atingido com um ano e meio de vida.

Nalgumas zonas do Leste da Península Ibérica colocam estas salamandras nos poços considerando-se que  a sua presença assegura que a água se mantém limpa.

Em baixo podem observar-se imagens obtidas de um exemplar que se encontrava hibernado debaixo de um tronco de acácia em estado de decomposição. A hibernação foi acidentalmente interrompida quando se procedia à limpeza do terreno que incluiu a remoção daquele tronco.

Reino:     Animalia
Filo:        Chordata
Classe:    Amphibia
Ordem:   Caudata
Família:  Salamandridae
Género:  Pleurodeles
Espécie:  P.waltl

Imagens captadas na Quinta da Casa Nova, Cortiçadas, Montemor-o-Novo










quarta-feira, 6 de março de 2013

Bicho-de-conta (porquinho-de-santo-antão ou tatuzinho)

(Oniscus asellus) -  Linnaeus, 1758

Com 16 mm de comprimento e 6 mm  de largura, possui o corpo marron escuro, uma carapaça brilhante, 7 pares de patas e dois pares de antenas (sendo um residual), o bicho-de-conta inclui-se no grupo mais numeroso dos isópodes terrestres com cerca de 3.600 espécies no mundo.

Passou a viver fora de ambientes aquáticos por possuir uma bolsa incubadora, também devido à forma achatada do corpo, a adaptações comportamentais e fisiológicas (como o desenvolvimento de cutícula espessa) e estruturas para trocas gasosas (pulmões pleopodais).

Produz feromônios, que expulsa com as fezes, e são percebidos por estruturas sensoriais das antenas. Em situações de maior seca estas substâncias são produzidas mais intensamente, o que leva a espécie a formar um grupo, reduzindo a perda de água. Em ambientes húmidos e quentes utilizam a evaporação para manter a temperatura do corpo, refrigerando-se. Nas extremidades das antenas possui quimioceptores. Muita da água que consome é ingerida através dos alimentos ou através de coprofagia.

A capacidade que possui para se enrolar como uma bola constitui um meio de defesa. Para o mesmo fim também utiliza outros estratagemas como a fuga, fingir-se morto e a libertação de secreções repelentes.

A abundância e diversidade com que ocorrem certas espécies de isópodes serve como indicação da qualidade das paisagens. Verifica-se a existência de maior abundância em pradarias naturais do que em zonas florestais, sendo certo que estes ambientes têm, por sua vez, maior densidade do que as áreas agrícolas. Em áreas de agricultura e silvicultura intensiva a sua densidade é muito baixa devido à alta mortalidade provocada pela aplicação de insecticidas e herbicidas. Apesar de algumas espécies poderem causar prejuízos à agricultura (nas culturas de tomate, pimentão, ervilhas), a sua diversidade e abundância deve ser estimulada dada a sua grande importância na decomposição de material orgânico, o que potencia a existência de agroecosistemas, visto que incrementam a disponibilidade de macronutrientes no solo.

Alimenta-se, durante a noite, de plantas e matéria orgânica em decomposição.

A reprodução é sexuada. O macho, pressionando a sua zona ventral contra um lado da fêmea,  injecta os espermatozóides num dos gonóporos (abertura genital), utilizando um apêndice vibratório. repete o processo do outro lado. Na época reprodutiva ocorre nas fêmeas a formação de um marsúpio. É nesta bolsa incubadora que inicialmente se desenvolvem os filhotes num fluido secretado pela parede do corpo materno. Nascem com um par de pernas a menos, que só posteriormente adquirem. A fim de reduzirem a elevada taxa de mortalidade, o crescimento é grande nos primeiros estágios de vida. Aos dois dias ocorre a primeira muda do exoesqueleto (eclidse). Até aos seis meses as mudas repetem-se em cada três semanas, altura em que se iniciam as eclidses de adultos (três a seis vezes por ano). Estas mudas verificam-se primeiro na metade posterior do corpo e dois dias depois na  metade anterior, ficando, nesta altura, com um aspecto bicolor. Para reaproveitamento do cálcio, o exoesqueleto libertado (exúvia) volta a ser ingerido. Podem atingir de três a quatro anos de vida.

Reino:      Animalia
Filo:         Arthropoda
Subfilo:    Crustacea
Classe:     Malacostraca
Ordem:    Isopoda
Família:   Oniscidae
Género:   Oniscus
Espécie:  O. asellus


Imagens captadas na Quinta da Casa Nova, Cortiçadas, Montemor-o-Novo.